Panthera onca
A onça-pintada ou jaguar (nome cientifico: Panthera onca), também conhecida por onça-preta(no caso dos indivíduos melânicos), é uma espécie de mamífero carnívoro da família Felidae encontrada nas Américas. É o terceiro maior felino do mundo, após o tigre e o leão, e o maior do continente americano. Apesar da semelhança com o leopardo (Panthera pardus) é evolutivamente mais próxima ao leão (Panthera leo). Ocorre desde o sul dos Estados Unidos até o norte da Argentina, mas está extinta em diversas partes dessa região atualmente. Nos Estados Unidos, por exemplo, está extinta desde o início do século XX, mas possivelmente ainda ocorre no Arizona. É encontrada principalmente em ambientes de florestas tropicais, e geralmente não ocorre acima dos 1 200 m de altitude. A onça-pintada está fortemente associada à presença de água e é notável como um felino que gosta de nadar.
É um felino de porte grande, com peso variando de 56 a 92 kg, podendo ter até 158 kg, e comprimento variando de 1,12 a 1,85 m sem a cauda, que é relativamente curta. Assemelha-se ao leopardo fisicamente; diferencia-se dele, porém, pelo padrão de manchas na pele e pelo tamanho maior. Existem indivíduos totalmente pretos. Tem uma mordida excepcionalmente poderosa, mesmo em relação aos outros grandes felinos. Isso permite que ela fure a casca dura de répteis como a tartaruga e de utilizar um método de matar incomum: ela morde diretamente através do crânio da presa entre os ouvidos, uma mordida fatal no cérebro.
É um animal crepuscular e solitário. É um importante predador e pode comer qualquer animal que seja capaz de capturar, desempenhando um papel na estabilização dos ecossistemas e na regulação das populações de espécies de presas. Porém, tem preferência por grandes herbivoros, podendo atacar o gado doméstico. Frequentemente convive com a onça-parda (Puma concolor), influenciando os hábitos e comportamento deste outro felino. Caça formando emboscadas. A area de vida pode ter mais de 100 km², com os machos tendo territórios englobando o de duas ou três fêmeas. A onça-pintada é capaz de rugir e usa esse tipo de vocalização em contextos de territorialidade. Alcança a maturidade sexual com cerca de 2 anos de idade, e as fêmeas dão à luz geralmente a dois filhotes por vez, pesando entre 700 e 900 gramas. Em cativeiro, a onça-pintada pode viver até 23 anos, mais do que em estado selvagem.
A IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) considera a espécie como "quase ameaçada", dado sua ampla distribuição geográfica, mas suas populações estão caindo, principalmente por causa da perda e fragmentação do seu habitat. Entretanto, localmente ela pode estar em sério risco de extinção, como em áreas da America Central e do Norte e na Mata Atlantica brasileira. O comércio internacional de onças ou de suas partes é proibido, mas o felino ainda é frequentemente caçado por fazendeiros e agricultores na America do Sul. Apesar de ter se reduzido, sua distribuição geográfica ainda é ampla, e há boas chances de sobrevivência da espécie a longo prazo na Amazônia e no Pantanal. Ela faz parte da mitologia de diversas culturas indigenas americanas, incluindo a dos maias, astecas e guaranis e a caça à onça-pintada é uma atividade carregada de simbolismo, principalmente entre os pantaneiros.
Etimologia
A onça-pintada também é conhecida por pintada, onça-verdadeira, jaguar, jaguaretê, jaguarapinima, acanguçu, canguçu ou simplesmente onça. O termo onça origina-se do grego lygx, através do termo llatino luncea e do termo italiano lonza. No Brasil, o nome onça-pintada é o mais utilizado, sendo que pintada é uma alusão à pelagem cheia de manchas e rosetas, ao contrário da outra onça, a onça-parda.
Jaguar origina-se do termo tupi-guarani ya'wara, e pode ser traduzido como fera e até cão, já que o termo era utilizado pelos indígenas para se referir a qualquer "fera" antes da chegada dos europeus. Com a colonização européia e a chegada dos cães, a palavra passou a ser usada apenas como referência aos cachorros, e ya'war-e'te ("fera verdadeira") passou a se referir à onça-pintada, originando o termo jaguaretê. Yaguareté é um nome usado em países de língua espanhola em que há muitos descendentes dos guaranis, como a Argentina e Paraguai. Acanguçu e canguçu originam-se do termo tupi-guarani akãgu'su, que significa "cabeça grande", através da junção de a'kãga("cabeça") e u'su ("grande"). Jaguarapinima vem do tupi ya'wara ("onça") e pi'nima ("pintada").
A designição pantera no nome cientifico, vem do latim, panthera. Panthera, em grego, é uma palavra para leopardo, πάνθηρ. A palavra é uma composição de παν- "todos" e θήρ vem de θηρευτής "predador", significando "predador de todos" (animais), apesar de que esta deve ser considerada uma etimologia popular. A palavra deve ter uma origem do Sâncristo, pundarikam, que significa tigre.
Distribuição geográfica e habitat
A onça-pintada habita tanto florestas tropicais na America do Sul e America Central, quanto áreas abertas secas e com inundações periódicas, como o Pantanal. Historicamente, ocorria nas florestas de carvalho dos Estados Unidos. Estudos com armadilhas fotograficas e rádio colar mostram que elas preferem áreas com densa vegetação, evitando áreas abertas, o que se reflete em uma preferência por áreas de floresta densa e chuvosa, sendo escassa em regiões mais secas, como nos pampas argentinos, nas secas savanas do México, e centro-sul dos Estados Unidos. A onça-pintada é dependente de cursos d'água permanentes, vivendo preferencialmente próximo a rios e pântanos, e é uma boa nadadora, apreciando passar parte significativa do dia dentro d'água. Não costuma ocorrer em altitudes maiores de 1 200 m, mas há registros em altitudes de até 3 800 m na Costa Rica, 2 700 m na Bolivia e 2 100 m no Peru.
Descrição
A onça-pintada é um animal robusto e musculoso. Tamanho e peso variam consideravelmente: o peso normalmente está entre 56 a 96 kg. Os maiores machos registrados pesavam até 158 kg (tendo o peso de uma leoa ou tigresa), e as menores fêmeas chegavam a ter 36 kg. As fêmeas são entre 10 a 20 % menores que os machos. O comprimento da ponta do focinho até a ponta da cauda varia de 1,12 m a 1,85 m. Sua cauda é a menor dentre os grandes felinos, tendo entre 45 e 75 cm de comprimento. Suas pernas são consideravelmente mais curtas se comparadas a um tigre ou leão com mesma massa corporal, mas são mais grossas e robustas. A onça-pintada tem entre 63 a 76 cm na altura da cernelha. É o maior felino das Americas e o terceiro maior do mundo, só não sendo maior que o leão e o tigre.
Variações no tamanho são observadas ao longo das regiões de ocorrência da onça, com o tamanho tendendo a aumentar nos indivíduos nos limites norte e sul da distribuição geográfica, com os menores indivíduos sendo encontrados na Amazônia e regiões equatoriais adjacentes. Um estudo realizado na Reserva da Biosfera Chamela-Cuixmala na costa do Pacífico no México, reportou medidas de massa corporal ao redor de 50 kg, não muito maior que uma onça-parda. Em contraste, no Pantanal, a média de peso foi de cerca de 100 kg, e machos mais velhos não raramente chegavam a pesar mais de 130 kg. Onças que ocorrem em ambientes florestais frequentemente são mais escuras na coloração da pelagem e menores do que aquelas encontradas em regiões de campos abertos (como no Pantanal), possivelmente, devido ao menor número de presas de grande porte em florestas. O crânio pode ter até mais de 27,5 cm de comprimento, mas geralmente tem entre 19 e 26 cm, sendo robusto, curto e largo no rostro, principalmente nos machos. Pode apresentar uma crista sagital, especialmente em machos mais velhos. O crânio da onça-pintada é semelhante ao da onça-parda (Puma concolor), mas se diferencia por ser maior e ter o osso nasal em formato côncavo. A anatomia funcional do crânio é semelhante a dos outros grandes felinos: existe um ligamento elástico no aparato hioide, o que permite a onça-pintada rugir. A sinfise mandibular é rígida, o que permite recrutar mais músculos na mastigação. A formula dentaria na onça-pintada é a mesma para outros felinos: . Os caninos são longos e podem ter 23,5 mm de comprimento, mas geralmente, possuem entre 17,5 e 18,6 mm de comprimento. Eles servem para segurar e matar as presas.A forma corporal atarracada e robusta torna a onça-pintada capaz de nadar, rastejar e escalar. A cabeça é grande e a mandíbula é desenvolvida e forte. A onça-pintada possui a mordida mais forte de todos os felinos, capaz de alcançar até 910 kgf e ela pode abrir a boca até a 13,1 cm de diâmetro, em um ângulo de 65 a 70 graus. É duas vezes a força da mordida de um leão e só não é maior que a da mordida de uma hiena; tal força é capaz de quebrar o casco de tartarugas. Um estudo comparativo colocou a onça-pintada como em primeiro lugar em força de mordida, ao lado do leopardo-das-neves, e à frente do leão e do tigre. É dito que uma onça é capaz de arrastar um touro de até 360 kg por 8 m e quebrar ossos com as mandíbulas. A onça-pintada caça grandes herbívoros de até 300 kg em florestas densas, como a anta (Tapirus terrestris), e seu corpo forte e atarracado é uma adaptação a esse tipo de presa e ambiente, como evidenciado pela morfologia de seu cotovelo e dos membros, o que mostra que ela não costuma correr tanto quanto felinos de áreas abertas. As patas são digitigradas como outros carnivoros e sua estrutura é típica de membros do gênero Panthera. As garras são retráteis, o que faz com que suas pegadas geralmente não apresentem marcas de garras, como outros felinos. A sua pegada é semelhante a da onça-parda, mas não possui os lobos da almofada plantar tão evidentes quanto a deste felino e é nitidamente maior, tendo até 12 cm de diâmetro as pegadas das patas dianteiras e 7,5 cm as das patas traseiras. Suas pegadas também possuem um aspecto arredondado, sendo mais largas do que redondas, principalmente as pegadas das patas dianteiras.
A cor de fundo da pelagem da onça é amarelo acastanhado (às vezes mais pálido), mas pode chegar ao avermelhado, marrom e preto, para todo o corpo. As áreas ventrais são brancas. A pelagem é coberta por rosetas, que servem como camuflagem, usando o jogo de luz e sombra do interior de florestas densas. As manchas variam entre os indivíduos: rosetas podem incluir um ou várias pintas em seu interior, e a forma das pintas também pode variar. As manchas e pintas da cabeça e pescoço costumam ser sólidas, e na cauda, elas se unem, de forma a aparecer bandas.
Melanismo
Polimorfismo na cor ocorre na espécie e variedades melânicas são frequentes, sendo a principal variação na pelagem encontrada em animais selvagens. Em indivíduos totalmente pretos, quando visto sob a luz e de perto, é possível observar as rosetas. Apesar de ser conhecida popularmente como onça-preta, é apenas uma variação natural, não sendo uma espécie propriamente dita.
Imagem: onça parda.
A forma totalmente preta é mais rara que a forma de cor amarelo-acastanhado, representando cerca de 6 % da população, o que é uma frequência muito maior do que a taxa de mutação. Portanto, a seleção natural contribuiu para a frequência de indivíduos totalmente negros na população. Existem evidências de que o alelo para o melanismo na onça-pintada é dominante. Ademais, a forma melânica é um exemplo de vantagem do heterozigoto; mas dados de cativeiro não são conclusivos quanto a isso.
Indivíduos albinos são muito raros, e foi reportada a ocorrência na onça-pintada, assim como em outros grandes felinos. Como é usual com o albinismo na natureza, a seleção natural mantém a frequência da característica próxima à taxa de mutação.
Dieta, forrageamento e caça
Pelo grande porte, é capaz de se alimentar até de outros felinos de tamanho menor, como a jaguatirica (Leopardus pardalis), apesar de ser incomum. Outros carnívoros, como o lobo guará (Chrysocyon brachyurus), o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous), o quati (Nasua nasua) e o mão-pelada (Procyon cancrivorus) também podem ser predados pela onça-pintada, e ela é o principal predador desses animais.
A onça-pintada raramente mata com uma mordida no pescoço, sufocando a presa, como é típico entre os membros do gênero Panthera, preferindo matar por uma técnica única entre os felinos: ela morde o osso temporal no crânio, entre as orelhas da presa (especialmente se for uma capivara) com os caninos, acertando o cérebro. Isto também permite quebrar cascos de tartaruga, após as extinções do Pleistoceno, quelônios podem ter se tornado presas abundantes em seu habitat. A mordida na cabeça é empregada em mamíferos, principalmente, enquanto que em répteis, como jacarés, a onça-pintada ataca o dorso do animal, acertando a coluna vertical, imobilizando o alvo. Embora capaz de rachar o casco de tartarugas, a onça pode simplesmente esmagar o escudo com a pata e retirar a carne. Quando ataca tartarugas-marinhas que vão nidificar na praia, a onça ataca a cabeça, e frequentemente decapita o animal, antes de arrastá-la para comer. Ao caçar cavalos, a onça pode pular sobre o dorso, colocar uma pata no focinho e outra na nuca, de forma de deslocar o pescoço. Moradores de ambientes em que ocorre a onça-pintada já contaram anedotas de uma onça que atacou um par de cavalos, e depois de ter matado um, ainda arrastou o outro, ainda vivo.
A onça-pintada caça em espreita e formando emboscadas, perseguindo pouco a presa. O felino anda de forma lenta, ouvindo e espreitando a presa, antes de armar a emboscada ou atacá-la. Ela ataca por cima, através de algum ponto cego da presa, com um salto rápido: as habilidades de espreita e emboscada dessa espécie são consideradas inigualáveis tanto por povos indígenas quanto por pesquisadores, e tal capacidade deve derivar do papel de ser um superpredador nos ambientes em que vive. Quando arma a emboscada, a onça pode saltar na água enquanto persegue a presa, já que é capaz de carregar grandes presas nadando, sua força permite levar novilhos para a copa das árvores.
Após matar a presa, a onça arrasta a carcaça para alguma capoeira ou outro lugar seguro, podendo a arrastar por até 1,5 km. Começa a comer pelo pescoço e peito, em vez de começar pelo ventre. O coração e pulmões são consumidos, seguidos pelos ombros e ela frequentemente deixa as partes traseiras da carcaça intactas. Entretanto, bezerros podem ser consumidos completamente. Elas raramente cobrem suas carcaças com folhas, o que a diferencia da onça-parda.
A necessidade diária alimentar de um indivíduo com 34 kg (que é menor peso encontrado em um indivíduo adulto) é de 1,4 kg. Para animais em cativeiro, pesando entre 50 a 60 kg, mais de 2 kg de carne são recomendados. Em liberdade, o consumo é naturalmente mais irregular: felinos selvagens gastam considerável energia e tempo para obter alimento, e podem comer até 25 kg de carne de uma só vez, seguidos por longos períodos sem se alimentar. Ao contrário das outras espécies do gênero Panthera, a onça-pintada raramente ataca seres humanos. Não existem casos de man-eaters como é reportado para os leopardos. Muitos dos escassos casos reportados mostram que se tratavam de indivíduos velhos ou feridos, com dentes danificados ou em momentos que eram caçadas. Às vezes, se feridas ou ameaçadas, as onças podem atacar os tratadores em zoológicos.
Reprodução e ciclo de vida
As fêmeas da onça-pintada alcançam a maturidade sexual com cerca de 2 anos de idade, e os machos entre 3 e 4 anos. Acredita-se que esse felino copule durante todo o ano em estado selvagem, e os nascimentos podem ocorrer durante o ano todo, mas em áreas mais temperadas, eles podem se concentrar no verão. Pesquisas com machos em cativeiro corroboram a hipótese de que os acasalamentos ocorrem durante o ano todo, com nenhuma variação em características do sêmen e da ejaculação: baixo sucesso reprodutivo também tem sido observado em cativeiro. O estro dura entre 6 e 17 dias, em um ciclo de 37 dias, e fêmeas demonstram o período fértil com marcação de urina e aumento nas vocalizações. Ambos os sexos se deslocam mais durante o período da corte.
O casal se separa após o ato sexual e as fêmeas providenciam todo o cuidado parental. A gestação dura entre 93 e 105 dias: elas podem dar à luz a até quatro filhotes, mas o mais comum é nascerem dois de cada vez. A mãe não tolera a presença de machos após o nascimento dos filhotes, visto o risco de infanticídio: tal comportamento também se observa no tigre.
Os filhotes nascem cegos, e abrem os olhos após duas semanas pesando entre 700 e 900 gramas. Os dentes começam a aparecer depois de um mês de idade. São desmamados após três meses, mas podem permanecer no ninho por até 6 meses, quando passam a acompanhar a mãe nas caçadas. A partir de vinte meses de idade eles dispersam do território natal e os machos raramente voltam, enquanto que as fêmeas podem voltar algumas vezes. Os machos também dispersam consideravelmente mais que as fêmeas, indo até 30 km mais longe que elas. Jovens machos são primeiramente nômades, competindo com outros mais velhos até que conseguem obter um território. Deve-se salientar que essa dispersão se dá antes da maturidade sexual dos indivíduos.
Em estado selvagem, a onça-pintada vive entre 12 e 15 anos de idade, mas em cativeiro, pode viver até mais de 23 anos, sendo um dos felinos com maior longevidade. Foi reportado uma fêmea que viveu até os 30 anos de idade.
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